A Polícia Federal identificou que três filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram diretamente beneficiados por uma estrutura clandestina montada dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O relatório da investigação, revelado pelo jornal O Globo, sustenta os indiciamentos e detalha como a Abin foi utilizada, ilegalmente, para proteger Carlos Bolsonaro (PL-RJ), Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Jair Renan Bolsonaro (PL).

A apuração aponta que a rede paralela dentro da Abin operava com o software espião FirstMile, com o objetivo de promover ações de monitoramento e interferência política em favor da família presidencial. Um dos alvos foi o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que havia apresentado requerimentos para quebra de sigilos de Carlos Bolsonaro durante a CPI da Covid, em 2021.

Diálogos interceptados pela PF mostram integrantes da estrutura combinando marcar Carlos Bolsonaro em postagens com informações falsas contra adversários. A rede ainda teria buscado anular investigações que envolviam Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”, com participação ativa do então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, e do general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI.

Uma gravação de 1 hora e 8 minutos, feita em 25 de agosto de 2020 e encontrada no celular de Ramagem, mostra o ex-presidente, o então ministro e Ramagem discutindo estratégias para desacreditar auditores da Receita Federal responsáveis por relatório que baseou o inquérito contra Flávio. A reunião contou ainda com a presença de uma advogada do senador.

A investigação da PF também aponta que Jair Renan foi beneficiado por ações da Abin paralela. O grupo teria produzido informações e interferido em apurações que investigavam o filho mais novo de Bolsonaro por suspeita de tráfico de influência. Em mensagens interceptadas, há ordens para monitorar veículos em nome de Renan e de sua mãe, com a assinatura de um suposto “01”, expressão usada para se referir ao ex-presidente.

A Procuradoria-Geral da República confirmou que houve pesquisas clandestinas relacionadas ao inquérito contra Jair Renan, possivelmente feitas a pedido direto de Jair Bolsonaro. A investigação sobre Renan teve início em 2021, após denúncias de que ele teria facilitado reuniões entre empresários e membros do governo federal. O caso acabou arquivado posteriormente.

A Abin declarou que os fatos investigados ocorreram em “gestões passadas” e que está à disposição das autoridades. Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre o relatório mais recente, embora em outras ocasiões tenha negado a existência da estrutura paralela ou envolvimento em espionagem ilegal.