
A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada nesta quarta-feira (12), aponta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um novo momento de estagnação em sua avaliação popular. O levantamento revela que 40% dos brasileiros reprovam a gestão do petista, enquanto apenas 28% aprovam, mantendo-se no pior nível de avaliação negativa entre seus três mandatos.
Na rodada anterior, realizada em abril, Lula havia registrado 38% de reprovação e 29% de aprovação — um leve alívio após o tombo ocorrido em fevereiro, quando a rejeição bateu 41% e a aprovação caiu para 24%. A esperança de retomada, no entanto, foi freada nas últimas semanas, com impacto direto da crise no INSS, envolvendo um escândalo de descontos ilegais em aposentadorias.
A operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal, revelou que cerca de R$ 6 bilhões teriam sido desviados por meio de descontos indevidos em benefícios previdenciários, supostamente para favorecer entidades ligadas a políticos. O esquema, iniciado em 2019, prosseguiu até 2023, já sob o atual governo. A reação lenta e mal articulada do Planalto e a exoneração do ministro Carlos Lupi (Previdência Social) não foram suficientes para conter o desgaste.
Avaliação do Governo Lula
Pesquisa Datafolha – Junho 2024
Presidente mantém o pior nível de avaliação negativa entre seus três mandatos
Evolução da Avaliação
Comparativo dos últimos meses
Após leve recuperação em abril, avaliação volta a cair em junho
Avaliação Pessoal de Lula
Trabalho pessoal como presidente
Recortes Demográficos
Avaliação por grupos sociais
Até 2 salários mínimos
Ensino Superior
Principais Conclusões
Lula enfrenta estagnação com 40% de reprovação e 28% de aprovação
A esperança de retomada após abril foi freada
Entre os mais pobres, aprovação subiu de 30% para 32%
Entre brasileiros com ensino superior, aprovação caiu de 31% para 25%
Fonte: Pesquisa Datafolha, divulgada em 12 de junho de 2024
Reação da população e perfil dos dados
Além da queda na avaliação direta da gestão, o Datafolha também perguntou se os entrevistados aprovam ou desaprovam o trabalho pessoal de Lula como presidente. Nesse recorte, 50% desaprovam (eram 49% em abril) e 46% aprovam (contra 48% na rodada anterior) — números estáveis dentro da margem de erro, mas que confirmam a percepção negativa consolidada.
Entre os mais pobres, que recebem até dois salários mínimos, o presidente se saiu um pouco melhor: a aprovação subiu de 30% para 32%, e a reprovação caiu de 36% para 33%. Já entre os brasileiros com ensino superior, o desgaste foi mais expressivo — a aprovação despencou de 31% para 25%, embora esse segmento tenha margem de erro maior, de 12 pontos percentuais.
A pesquisa ouviu 2.004 eleitores em 136 municípios do país entre os dias 10 e 11 de junho, com margem de erro de dois pontos para mais ou menos.
Comunicação em xeque e desgaste acumulado
O escândalo no INSS não é o único episódio que afeta a imagem do governo. Desde o início do terceiro mandato, Lula e sua equipe enfrentam dificuldades para administrar crises de comunicação. Ainda em dezembro, a queda abrupta na popularidade, de 35% para 24% na aprovação, foi atribuída à confusão em torno da proposta de fiscalização do Pix, que teve de ser revista pelo Ministério da Fazenda após forte reação negativa.
Na tentativa de conter o desgaste, o Planalto trocou o comando da comunicação oficial, colocando o marqueteiro Sidônio Palmeira à frente da estratégia. A mudança parecia surtir efeito na rodada anterior da pesquisa, mas o impacto do caso INSS se mostrou profundo e difícil de reverter.
Além disso, episódios menores também geraram ruído. Durante uma visita à China, a primeira-dama Janja Lula da Silva causou desconforto ao interpelar o presidente chinês Xi Jinping sobre o TikTok. A medida teve repercussão diplomática e, segundo pesquisas qualitativas de partidos, influencia negativamente na percepção da imagem presidencial.
Enquanto isso, a elevação do IOF, articulada por Fernando Haddad, gerou reação no mercado e entre setores do Congresso, mesmo com recuos parciais. Nenhum desses episódios, no entanto, teve o peso simbólico e político do escândalo no INSS, apelidado por adversários como “roubo de velhinhos”.
Com aprovação estagnada, oposição mobilizada e base instável no Congresso, o governo Lula-3 inicia a segunda metade do ano com o desafio de reconstruir a confiança popular e conter o avanço da rejeição, especialmente em setores antes mais alinhados ao petista.