Uma pesquisa do instituto Datafolha revelou que 52% dos brasileiros acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deveria ser preso por envolvimento na tentativa de golpe de Estado investigada pela Polícia Federal. O levantamento foi divulgado nesta terça-feira (8) pelo jornal Folha de S.Paulo e escancara a divisão da opinião pública diante de um dos episódios mais graves da história recente do país.
A pesquisa foi realizada entre os dias 1º e 3 de abril, com 3.054 entrevistas em 172 municípios brasileiros, e possui margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Os dados foram colhidos poucos dias após Bolsonaro se tornar réu por decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que acolheu a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo a PGR, as investigações da Polícia Federal apontam para uma tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e a prática de outros crimes, supostamente articulados por Bolsonaro e aliados no fim de seu mandato, com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro nega golpe, mas admite reuniões
Jair Bolsonaro tem negado qualquer envolvimento direto em uma tentativa de golpe. No entanto, sua narrativa tem se modificado com o tempo. Inicialmente, ele dizia não ter conhecimento de nenhum plano golpista. Mais recentemente, passou a admitir que participou de reuniões em que “cenários foram discutidos”, embora sustente que nenhuma medida efetiva tenha sido tomada.
Sua defesa afirma que o ex-presidente é alvo de perseguição política e tem organizado atos públicos em busca de apoio popular, defendendo anistia para os condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, considerados pelas autoridades como consequência direta das tentativas frustradas de ruptura institucional no final de 2022.
Divisão regional e impacto político
A pesquisa Datafolha também apontou fortes variações regionais nas opiniões sobre a prisão do ex-presidente. No Nordeste, 59% defendem a punição de Bolsonaro, enquanto no Sul, há leve maioria contrária, com 49% rejeitando a prisão e 46% a apoiando. No Norte e Centro-Oeste, há empate técnico: 47% a favor da prisão e 45% contra.
Esse cenário polarizado reflete diretamente no futuro da direita brasileira, atualmente sem uma liderança consolidada, diante da inelegibilidade de Bolsonaro até 2030. O nome mais cotado para herdar esse espaço é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.
Tarcísio tenta se equilibrar entre a fidelidade ao ex-presidente e uma postura mais institucional. Participou de atos pela anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro, mas tem evitado críticas diretas ao Judiciário e busca se apresentar como um nome mais moderado para disputar o centro político em 2026.
Julgamento histórico
O julgamento de Jair Bolsonaro no STF é visto como um dos maiores testes às instituições democráticas desde a redemocratização do país. Caso condenado, o ex-presidente poderá se tornar o primeiro chefe de Estado brasileiro punido criminalmente por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, estabelecendo um precedente histórico e ampliando o debate sobre os limites da atuação política no país.