A policial militar cearense Mayara Kelly Mota, de 30 anos, tornou-se o centro de uma polêmica após ser advertida pela corporação por publicar vídeos nas redes sociais que mostravam sua rotina de trabalho. Com cerca de 43 mil seguidores no Instagram, Mayara compartilha frequentemente conteúdos relacionados à vida familiar, maternidade e também ao serviço na Polícia Militar do Ceará.

A punição, definida como dois dias de permanência no quartel, foi aplicada após a agente postar vídeos em que aparece lavando uma viatura e ensinando o uso de um torniquete. Segundo a corporação, ela violou artigos do Código Disciplinar Militar por “promoção pessoal utilizando a farda militar”.

A defesa de Mayara entrou com recurso e tenta anular a decisão.

Rotina entre o fardamento e a família

Mayara ingressou na PM em 2017. Casada com um também policial militar, é mãe de dois filhos: Lorenzo, de seis anos, e Maísa, de apenas dez meses. Sua presença nas redes sociais mistura vídeos do serviço público — como patrulhamento em ônibus, treinos de tiro e demonstração de equipamentos — com momentos de lazer e afeto ao lado da família.

Em suas publicações, ela costuma usar frases motivacionais e recebe comentários de seguidores que admiram sua trajetória. “Se fosse fácil, qualquer um conseguiria”, escreveu ela em um vídeo que mostra um treinamento de pontaria.

O que motivou a punição

Foto: Reprodução/Instagram

A polêmica surgiu após dois vídeos em particular. No primeiro, publicado em julho de 2023, Mayara aparece lavando uma viatura no quartel enquanto comenta sobre o papel das mulheres na corporação.

“Algumas pessoas acham que a mulher na polícia só trabalha no administrativo. Mal sabem eles que exercemos inúmeras funções que até uns anos atrás poderiam ser consideradas apenas coisas para homem”, disse no vídeo.

O segundo conteúdo que gerou repercussão mostra Mayara, fardada, demonstrando o uso de um torniquete. A gravação, feita também em julho, foi considerada pelas autoridades como infração ao regulamento interno.

Em decisão publicada no dia 4 de abril deste ano, a Polícia Militar concluiu que houve violação aos seguintes artigos do Código Disciplinar da corporação:

  • Art. 8º, incisos XV, XXVII e XXVIII, que tratam do dever de zelar pela imagem da instituição, manter discrição e não se promover pessoalmente usando a imagem da corporação.
  • Art. 13, §1º, inciso X, que proíbe a divulgação irrestrita de assuntos administrativos ou técnicos que possam comprometer a imagem da Polícia Militar.

Defesa fala em tratamento desigual

A defesa da agente, conduzida pelo advogado Francisco Sabino, membro da Associação das Praças Militares do Ceará (Aspra), argumenta que a policial está sendo tratada de forma desigual em relação a outros agentes que também mantêm presença ativa nas redes sociais. “É uma demonstração clara de quebra do princípio da isonomia. Há policiais que fazem o mesmo e não recebem nenhuma punição”, disse o advogado.

O recurso foi protocolado na terça-feira (8), e o comandante da corporação tem até dez dias para decidir se mantém ou revoga a punição. Caso a penalidade seja mantida, Mayara terá que cumprir dois dias de reclusão dentro dos limites do quartel, sem contato com sua família durante o período.

Agradecimentos nas redes

Embora tenha sido orientada a não comentar o caso diretamente, Mayara publicou um agradecimento nas redes sociais pelas mensagens de apoio que tem recebido: “Gratidão a todos pelo carinho. Cada palavra de incentivo está sendo muito importante.”

O caso reacende o debate sobre o uso das redes sociais por profissionais da segurança pública e os limites entre disciplina militar e liberdade de expressão individual.