
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) denunciou 13 influenciadores digitais acusados de promover plataformas ilegais de jogos de azar, conhecidas popularmente como “Jogo do Tigrinho”, entre os anos de 2020 e 2025. De acordo com a investigação conduzida pela Polícia Civil e apresentada à Vara de Delitos de Organizações Criminosas, os réus movimentaram mais de R$ 14,3 milhões durante o período, utilizando as redes sociais para induzir milhares de seguidores a realizar apostas por meio de plataformas clandestinas operadas por estrangeiros ainda não identificados.
A organização criminosa, segundo o MPCE, estava centralizada em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense. Os investigados são acusados de crimes como associação criminosa, lavagem de dinheiro e estelionato. Eles promoviam os jogos ilegais por meio de vídeos, stories e links patrocinados, muitas vezes em grupos de WhatsApp gerenciados por eles mesmos. A denúncia foi recebida no dia 14 de maio, e os acusados tornaram-se réus em processo criminal.
Confira os réus e os crimes:
Manipulação emocional e perdas financeiras
A investigação aponta que os influenciadores promoviam os jogos como uma oportunidade de “renda extra”, simulando ganhos irreais por meio de “contas demo” – versões manipuladas do jogo programadas para sempre vencer. O objetivo era induzir os seguidores a acreditarem que poderiam lucrar com as apostas, quando, na realidade, o funcionamento da plataforma seguia uma lógica de manipulação emocional, alternando pequenas vitórias com grandes perdas para gerar dependência.
Uma das vítimas identificadas no processo, uma mulher que teve sua identidade preservada, afirmou ter perdido R$ 60 mil após ser convencida a jogar por influência da influenciadora Victoria Haparecida de Oliveira Roza. Em depoimento, ela relatou que “apostava quando os influenciadores diziam que o horário estava pagando”. Quando ganhava, a plataforma exigia novas apostas para liberar o saque, resultando na perda de todo o dinheiro.
R$ 14,3 milhões em movimentações bancárias

A denúncia detalha movimentações financeiras elevadas associadas aos investigados. Victoria Oliveira, por exemplo, movimentou R$ 5 milhões em apenas duas contas bancárias. Já a influenciadora Tássia Avelina Franklin Leandro recebeu mais de R$ 5,2 milhões entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024. Outros acusados receberam valores entre R$ 400 mil e R$ 1,1 milhão, também provenientes de empresas que operam como facilitadoras de pagamento das plataformas ilegais.
O MPCE sustenta que os investigados passaram a exibir um padrão de vida luxuoso com veículos, joias, produtos de grife e viagens internacionais — tudo supostamente custeado com recursos obtidos das apostas ilegais.
Relação com estrangeiros e anonimato dos mandantes
Os pagamentos eram feitos, segundo os próprios réus, por “chefes chineses”, responsáveis por enviar os links dos sites e gerenciar as comissões. Apesar de existirem prints, vídeos e fotos dos rostos de alguns desses estrangeiros, até o momento, nenhuma identificação formal foi realizada. O MPCE ressalta que os mandantes da operação seguem anônimos, mesmo com os elementos reunidos durante a investigação.
Pedido de indenizações
Na denúncia, o Ministério Público solicita que os réus paguem R$ 100 mil cada ao Estado como reparação por danos morais coletivos. Além disso, o órgão pede que três vítimas identificadas sejam indenizadas com valores de R$ 100 mil por danos morais e materiais. A Justiça ainda não analisou o pedido.
Defesa contesta prisão preventiva
Entre os denunciados está Janisson Moura Santos, preso preventivamente desde 20 de março de 2025. A defesa, representada pelos advogados Emetério Neto e Paulo Cézar Machado Filho, afirma que a prisão é desproporcional e que o réu não apresenta risco à ordem pública. “Arriscamos a dizer que, em todo o Brasil, muito provavelmente, não existe atualmente nenhum influenciador digital preso preventivamente em presídio por práticas de jogos on-line, os chamados ‘Jogos do Tigrinho’, exceto Janisson Moura e uma outra pessoa”, afirmaram os advogados em nota.
A defesa destaca ainda que Janisson é réu primário, possui bons antecedentes e residência fixa, e que há alternativas legais à prisão preventiva, como o uso de tornozeleira eletrônica.
Impacto social e vício
A denúncia do MPCE sublinha o impacto social da promoção dos jogos ilegais, especialmente sobre a população mais vulnerável. Segundo o órgão, muitas vítimas entraram em ciclos de endividamento, venderam bens essenciais e comprometeram a renda familiar acreditando na promessa de lucro fácil. Algumas desenvolveram quadros de ansiedade, depressão e abandonaram o trabalho.
Até o momento, as defesas dos demais réus não foram localizadas ou não se manifestaram. O espaço segue aberto para futuras declarações. A matéria será atualizada caso haja novas manifestações.