A eleição de um papa é, por tradição consolidada, realizada entre os cardeais da Igreja Católica. No entanto, a legislação canônica não impede que um homem católico batizado, mesmo sem ser cardeal, possa ser eleito para o cargo mais alto do catolicismo. Embora essa possibilidade seja teórica nos tempos modernos, ela já se concretizou em períodos anteriores da história e segue prevista nas normas do conclave.
Hoje, apenas cardeais com menos de 80 anos participam do conclave e, desde o século XV, todos os papas eleitos já eram membros do colégio cardinalício. A prática se enraizou devido à importância de escolher alguém já familiarizado com a complexa administração da Igreja e as demandas da liderança espiritual global. Ainda assim, há episódios na história em que a escolha recaiu sobre figuras de fora desse seleto grupo.
Casos históricos de papas não cardeais
Papa Gregório X (1271)
O exemplo mais notável é o de Papa Gregório X, eleito em 1271. Na época, a Igreja enfrentava um dos períodos mais longos de sede vacante, com quase três anos sem papa após a morte de Clemente IV. Gregório, então um arcediago e diplomata respeitado, estava em missão no exterior e não fazia parte do colégio cardinalício. Sua reputação de honestidade e competência o tornou o nome de consenso. Após sua eleição, Gregório X liderou importantes reformas no processo eleitoral, estabelecendo normas que deram origem ao atual sistema de conclave.
Papa São Celestino V (1294)
Outro episódio marcante é o de São Celestino V, um eremita que levava vida de reclusão quando foi escolhido para o papado. Em meio a uma crise institucional, os cardeais viram em sua fama de santidade uma esperança de renovação. Ele aceitou relutantemente o cargo, mas, pouco preparado para a vida administrativa, renunciou apenas cinco meses depois — um gesto raro e histórico.
Papa Urbano V (1362)
Papa Urbano V era monge beneditino e bispo de Clermont, na França, sem nunca ter sido cardeal. Sua eleição representou uma aposta em seu perfil de grande jurista e administrador. Urbano é lembrado por seus esforços para retornar a sede do papado de Avinhão para Roma e por sua atuação na promoção da educação e das missões cristãs.
Papa Urbano VI (1378)
O caso de Papa Urbano VI é outro exemplo relevante. Arcebispo de Bari, foi escolhido na esperança de apaziguar tensões internas dentro da Igreja, principalmente com o desejo de manter o papado em Roma. No entanto, seu estilo de liderança autoritário gerou uma crise que culminou no Grande Cisma do Ocidente, um dos períodos mais turbulentos da história eclesiástica.
Linha do Tempo: Papas Eleitos sem Serem Cardeais
Eleito enquanto diplomata em missão, não era cardeal.
Eremita chamado para liderar a Igreja; renunciou meses depois.
Monge beneditino e bispo eleito pela sua reputação administrativa.
Arcebispo de Bari, escolhido para manter o papado em Roma.
A tradição contemporânea
Desde então, a prática de eleger apenas cardeais tornou-se padrão. Além da segurança de confiar o papado a alguém profundamente imerso na vida institucional da Igreja, a escolha interna facilita a condução dos trabalhos durante o conclave, que é restrito e protocolar.

Em tempos recentes, mesmo com a permissão teórica para eleger um não cardeal, seria extremamente improvável que os cardeais optassem por romper a tradição. A necessidade de experiência pastoral, diplomática e administrativa pesa fortemente na escolha.
Ainda assim, a possibilidade permanece aberta. Se algum dia a Igreja decidir, em circunstâncias extraordinárias, eleger um papa de fora do colégio cardinalício, ele deverá ser ordenado bispo imediatamente após a aceitação do cargo, como prevê o direito canônico.
Enquanto o próximo conclave não se realiza, a história recorda que a eleição de papas sempre combina tradição, necessidade e, em momentos decisivos, também a capacidade de surpreender.
Regras do Conclave
- Somente cardeais com menos de 80 anos podem participar como eleitores.
- O conclave é realizado na Capela Sistina, no Vaticano, sob rigoroso isolamento.
- É necessário obter dois terços dos votos para a eleição ser válida.
- Qualquer homem batizado e católico pode ser eleito papa, mas é tradição eleger um cardeal.
- O eleito precisa aceitar o cargo e, se ainda não for bispo, deve ser ordenado imediatamente.
- As votações ocorrem em sessões diárias, com até quatro escrutínios por dia.
- Após cada votação sem sucesso, a fumaça preta é liberada pela chaminé da Capela; a fumaça branca anuncia a eleição do novo papa.