Para muitos, a Páscoa é sinônimo de ovos de chocolate, coelhinhos decorativos e mesas fartas. No calendário da cristandade, a data marca a ressurreição de Jesus Cristo, sendo considerada uma das celebrações mais importantes para a maioria das igrejas, especialmente para a Igreja Católica. No entanto, muitos dos elementos tradicionalmente associados à Páscoa não têm origem bíblica, mas sim em costumes pagãos antigos, incorporados com o tempo às festividades religiosas.

A própria palavra “Páscoa” remonta à tradição judaica do Pessach, que celebra a libertação dos hebreus do Egito. Já os símbolos como ovos decorados, coelhos e o chocolate surgiram séculos depois, com raízes em rituais de fertilidade e na fusão entre crenças populares e festividades da Igreja Católica.

Fertilidade, primavera e renascimentos

Povos germânicos, celtas e saxões cultuavam divindades da fertilidade e do renascimento da natureza.

Antes de serem associados à ressurreição de Cristo, ovos e coelhos faziam parte de rituais ligados ao fim do inverno e chegada da primavera no hemisfério norte. Povos germânicos, celtas e saxões cultuavam divindades da fertilidade e do renascimento da natureza — e uma das mais citadas nesse contexto é Easter, ou Eostre (ou ainda Ostara), deusa pagã da fertilidade e da primavera.

Segundo estudiosos, os ovos decorados simbolizavam a renovação da vida e o ciclo natural. Já o coelho, conhecido por sua alta taxa de reprodução, era venerado como símbolo de fertilidade e abundância. Esses elementos eram comuns nas celebrações de povos europeus muito antes da cristianização dessas regiões.

Com o avanço do cristianismo na Europa, líderes religiosos passaram a adaptar práticas locais aos ensinamentos da Igreja, a fim de facilitar a conversão dos povos. Dessa forma, muitos dos costumes pagãos foram integrados às datas religiosas da Igreja Católica, como a própria celebração da Páscoa.

Veja alguns destaques interessantes a seguir.

Ovos de chocolate: um costume moderno

A tradição dos ovos de chocolate é ainda mais recente. Os primeiros registros aparecem na França e na Alemanha do século XVIII, quando confeiteiros começaram a produzir ovos doces como presentes de Páscoa. Com o tempo, a prática se espalhou e ganhou força com o avanço da indústria do chocolate no século XIX.

Hoje, o ovo de Páscoa é um dos itens mais vendidos do comércio nessa época, especialmente no Brasil, onde a data tem forte apelo comercial, embora mantenha suas raízes religiosas, incluindo os elementos trazidos do paganismo.

E a Bíblia?

Vale destacar que nenhum dos símbolos populares da Páscoa — coelhos, ovos ou chocolate — tem origem nas ordenanças bíblicas. A ênfase que ela dá é na redenção do pecado, no sacrifício de Jesus e na vida eterna que ele torna possível, sem qualquer menção a coelhos ou ovos. Não há sequer uma ordem de Jesus para celebrar sua ressurreição. Antes, os relatos bíblicos apontam que ele pediu uma cerimônia em sua memória relacionada ao sacrifício de morte.

A mistura entre tradições religiosas e culturais ao longo da história acabou transformando a Páscoa em uma celebração com múltiplos significados, que variam conforme a cultura, a fé e o tempo. Há, inclusive, grupos religiosos, como as Testemunhas de Jeová, que não celebram a Páscoa moderna e não fazem uso dos elementos que a compõe, tais como coelhos e ovos.

📜 Páscoa: os primeiros cristãos celebravam a morte ou a ressurreição?

Nos primeiros séculos do cristianismo, a celebração da Páscoa era mais associada à morte de Jesus do que à ressurreição. Os primeiros cristãos — muitos deles vindos do judaísmo — mantiveram a data do Pessach judaico, reinterpretando-a como o momento do sacrifício do “Cordeiro de Deus”.

A ressurreição de Cristo só passou a ser o centro da liturgia pascal mais tarde, principalmente a partir do Concílio de Niceia, em 325 d.C., quando o domingo da Páscoa foi instituído como a grande celebração da vitória sobre a morte.