Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um policial militar agredindo com socos um homem de 35 anos com transtornos mentais durante uma abordagem policial ocorrida na manhã desta quarta-feira (30), no Conjunto Dert, área periférica da cidade de Quixadá, no Sertão Central do Ceará. A ação causou indignação entre moradores que testemunharam o episódio.

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Nas imagens, é possível ver três policiais militares envolvidos na ocorrência. Um deles aparece ajoelhado sobre o homem, já imobilizado no chão, e desfere contra ele pelo menos dois socos. As imagens foram feitas e divulgadas pela comerciante Juliana Marques, que mora e trabalha na mesma rua em que o episódio aconteceu.

Já segundo Raquel Rodrigues, a abordagem ocorreu após seu irmão, que circulava de bicicleta, desobedecer a uma ordem de parada dada pelos policiais. Ele teria, inclusive, jogado a bicicleta contra um dos PMs, o que provocou a reação imediata da equipe. Raquel confirmou que ele possui transtornos mentais, não sabe lidar com pressão psicológica e classificou a ação da polícia como desproporcional. Ela ainda explicou ao DQ que, por causa de sua condição mental, seu irmão não consegue trabalhar e recebe benefícios sociais para viver. Revelou, também, que ele já possui passagem pela polícia por uma agressão e que, se exposto à pressão, pode ficar violento.

Além de divulgar o vídeo com parte das agressões, a moradora e comerciante Juliana Marques, que presenciou a cena, fez um relato contundente em suas redes sociais (Veja a íntegra do relato abaixo). Segundo ela, a comunidade teria tentado alertar os policiais de que o homem era conhecido na vizinhança por sua condição de saúde mental, mas os agentes não teriam interrompido as agressões.

“A resposta que eu ouvi foi: ‘Remédio pra um doido é outro doido’. Mesmo com todos dizendo que ele era doente mental, a pancadaria continuou”, disse Juliana. “A gente que mora aqui sabe diferenciar um cidadão de bem, um bêbado, um doente. O que vi hoje foi covardia.”

Juliana afirmou que decidiu gravar a ação para garantir que os familiares do homem tivessem provas da abordagem violenta.

O relato de Juliana Marques

O relato de Juliana Marques

Trabalho ao lado da minha casa. Eu ouvi um disparo. A priori eu pensei que era a marginalidade, mas me surpreendi ao ver que não era, eram policiais. Chegando até a esquina eu vi o que tava acontecendo, a gente que mora aqui conhece quando é um cidadão, ou quando é alguém que está alcoolizado, ou quando é alguém que não tem uma boa índole. E, no caso, o cidadão era alguém doente, sendo espancado no chão, todo mundo apavorado, sem conseguir dar nenhuma informação à polícia de que ele era uma pessoa doente mental. Eu me aproximei dizendo que era moradora da casa ao lado, e que o rapaz era doente mental. E a resposta foi: “Remédio pra um doido é outro doido.” E a pancadaria continuou. Mesmo eu dizendo: “Senhor, Sargento, é um doente mental. Não façam isso não.” Porque puxavam muito o cabelo do rapaz. E ele dizia: “Eu não fiz nada, eu não fiz nada.” A única coisa que me restou naquele momento foi capturar as cenas pra que os familiares fossem em busca de justiça. Porque, gente, pelo amor de Deus. Dá pra diferenciar o que é um cidadão, o que é um bêbado, o que é um doente. Pelo amor de Deus não vamos ser coniventes com a covardia e com a brutalidade. Nem todo mundo trabalha desse jeito. Tem policiais que eu tiro o chapéu, bato palmas, mas hoje, a equipe de hoje deixou todo mundo aterrorizado pela maneira que fizeram.

O caso gerou forte repercussão nas redes sociais, após a publicação de Juliana. Segundo familiares do homem, ele ficou preso e aguarda audiência com o juiz nesta quinta-feira (01).

Assista ao desabafo de Juliana Marques:

O outro lado

A Polícia Militar do Ceará, instituição fundamental para a ordem pública e paz social, ainda não se manifestou oficialmente sobre o episódio até o momento da publicação desta matéria. De modo geral, os policiais militares são merecedores de grande respeito e apoio público. O espaço no DQ segue à disposição, inclusive para os policiais que aparecem nas imagens, caso decidam se manifestar. Conforme dá para escutar no vídeo, um deles afirma ter sido agredido primeiro. E o próprio relato da irmã do homem detido também informa que a agressão partiu primeiro do homem doente.