Ser policial no Brasil é atuar em um dos trabalhos mais exigentes e arriscados da esfera pública. É fácil criticar os fardados. Difícil é vestir a camisa deles. Presente na linha de frente da segurança pública, o policial lida diariamente com situações de alto risco, pressão constante, instabilidade emocional e exposição a julgamentos sociais. Apesar disso, a categoria enfrenta baixos salários, estrutura limitada de trabalho e pouca assistência em saúde mental.
Risco e tensão permanentes
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil está entre os países com maior número de policiais mortos em serviço. A profissão é marcada pela imprevisibilidade. Abordagens de rotina podem escalar para situações de confronto, perseguições ou emboscadas. A tensão constante faz parte da rotina de agentes que muitas vezes enfrentam jornadas extensas e instabilidade nas escalas de trabalho.

Além dos riscos nas ruas, muitos policiais também são alvo de ameaças — não apenas contra si, mas também contra familiares. O medo de represálias por parte de grupos criminosos organizados ou indivíduos violentos é uma preocupação real para quem veste a farda. Há relatos de esposas e filhos que vivem sob vigilância, e de policiais que mudam de rotina constantemente por questões de segurança.
Salários e estrutura insuficientes
Em diversos estados, os salários pagos à categoria estão entre os mais baixos do funcionalismo público, considerando o nível de risco e exigência física e mental. Em 2024, levantamento do Dieese apontou que a média salarial de policiais militares varia entre R$ 3.500 e R$ 6.000, dependendo do estado. Os valores estão abaixo de profissões com menor grau de exposição à violência e à imprevisibilidade.
A defasagem salarial não é o único desafio. Muitos batalhões lidam com falta de equipamentos modernos, frota deficiente, coletes vencidos e dificuldades na reposição de pessoal. A sobrecarga é comum em áreas com altos índices de criminalidade, o que contribui para o estresse acumulado.
Impacto psicológico e saúde mental
A rotina de estresse e risco elevado tem afetado diretamente a saúde psicológica dos profissionais de segurança pública. Um estudo realizado pela Universidade de Brasília (UnB) aponta que mais de 30% dos policiais brasileiros apresentam sintomas compatíveis com transtornos como depressão, ansiedade e síndrome de burnout.
dos policiais brasileiros apresentam sintomas compatíveis com transtornos como depressão, ansiedade e síndrome de burnout.
Fonte: Universidade de Brasília (UnB)
O atendimento psicológico, embora previsto em leis e regulamentações internas, ainda é escasso ou pontual em muitos comandos. Além disso, o estigma interno dificulta que policiais busquem ajuda por medo de serem vistos como “fracos” ou incapacitados para o serviço operacional.

Desinformação e julgamentos
Outro fator apontado por representantes da categoria é o aumento da exposição a julgamentos públicos, especialmente nas redes sociais. Vídeos de abordagens ou operações frequentemente circulam fora de contexto, gerando julgamentos prévios que nem sempre refletem a realidade da ocorrência.
Entidades representativas defendem que o trabalho policial deve ser avaliado com critérios técnicos e legais, e que casos de excessos devem ser apurados com rigor, sem comprometer a imagem de toda a corporação. Ao mesmo tempo, destacam que o respeito institucional à polícia é fundamental para a manutenção da ordem e da segurança pública.