
Quixadá perdeu nesta terça-feira (11) uma de suas figuras mais singulares do cenário artístico local. José Orlando da Silva, mais conhecido como Chancudo, faleceu deixando um legado de criatividade, resistência e amor pela arte. Ícone do cinema amador da cidade, ele se tornou conhecido nos anos 1990 por criar, dirigir e protagonizar o filme “A Vingança de Chancudo”, uma irreverente mistura de ação e comédia que se transformou em clássico da memória audiovisual quixadaense.
Filho de família humilde, Chancudo jamais frequentou escolas de cinema, tampouco teve acesso a equipamentos modernos ou incentivos institucionais. O que o movia era o desejo incontrolável de contar histórias com imagens. E foi com esse espírito que ele ergueu, do zero, uma obra que cativou plateias locais e marcou uma geração.
Seu aprendizado foi informal, visceral, intuitivo. Nas palavras de um contemporâneo e amigo de cena: “Chanca era um desses artistas que nascem da terra e nela se fortalecem — um ser de pura resiliência, daqueles que não esperam o momento certo, mas o criam com coragem e paixão.”
Símbolo de resistência heroica
Em “A Vingança de Chancudo”, filmado com recursos limitados e produção artesanal, ele deu vida ao herói que levava seu nome — símbolo de resistência, justiça e humor nordestino. O filme virou sucesso entre amigos, vizinhos, escolas e feiras culturais. Com o tempo, passou a ser reverenciado como um símbolo da força do cinema independente feito com amor e inventividade.
Partiu com poucos bens, mas com a alma cheia
José Orlando da Silva viveu de forma simples. Teve uma vida marcada por dificuldades econômicas e pouco reconhecimento institucional. Partiu quase na miséria material, como relatam amigos próximos, mas com a alma realizada, por ter concretizado seu maior sonho: fazer cinema, deixar uma obra, registrar sua história.
Sua trajetória emociona por ser o retrato de tantos artistas populares que constroem cultura longe dos grandes centros, com escassos recursos, mas imensa grandeza de espírito. Chancudo não teve salas de cinema, mas teve plateia; não teve editais, mas teve história; não teve fama, mas teve legado.
Um nome que permanece
Quixadá se despede de um artista que nasceu do povo e para o povo criou. Seu nome permanecerá gravado na memória cultural da cidade, como símbolo de ousadia, criatividade e força.
Que a lembrança de Chancudo inspire novas gerações a não desistirem de seus sonhos, por mais distantes que pareçam. Porque ele mostrou, com sua câmera simples e sua vontade imensa, que fazer arte é possível mesmo quando tudo parece dizer o contrário.
Vá em paz, Chancudo. Seu cinema não morre.