O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou nesta segunda-feira (21) sobre a morte do papa Francisco, mas optou por não citar o nome do pontífice em sua nota oficial. A decisão chamou atenção de analistas e religiosos por ocorrer em um contexto de diferenças ideológicas públicas entre ambos.

Na nota, Bolsonaro preferiu destacar o cargo de papa e o papado como instituição milenar, sem mencionar diretamente Jorge Mario Bergoglio, líder da Igreja Católica falecido nesta madrugada, aos 88 anos, após complicações de saúde, ou mesmo seu nome papal, Francisco.

A nota divulgada por Bolsonaro diz:

“O mundo e os católicos se despedem daquele que ocupava uma das figuras mais simbólicas da fé cristã: o Papa. Mais que um líder religioso, o papado representa a continuidade de uma tradição milenar, guardiã de valores espirituais que moldaram civilizações. Para o Brasil e o mundo, a figura do Papa sempre foi sinal de unidade, esperança e orientação moral. Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza.”

A ausência do nome de Francisco no texto e a ênfase na simbologia do papado, e não na trajetória pessoal do líder falecido, estão sendo interpretadas por comentaristas como um gesto deliberado. Ao longo dos últimos anos, Bolsonaro e Francisco protagonizaram tensões públicas em torno de temas como preservação ambiental, imigração, justiça social e armamento.

Diferenças públicas

O papa Francisco se destacou por fazer críticas diretas ao populismo, ao uso político da fé e à indiferença diante das mudanças climáticas — temas que frequentemente colidiram com a agenda política e ideológica do ex-presidente brasileiro.

Francisco também foi um crítico do autoritarismo e defensor do diálogo inter-religioso, da inclusão de minorias e dos direitos de imigrantes e refugiados. Em contrapartida, Bolsonaro construiu seu capital político com forte base no conservadorismo religioso e em pautas ideológicas opostas às defendidas pelo pontífice argentino.

Durante o mandato presidencial, Bolsonaro jamais se encontrou pessoalmente com o papa Francisco, mesmo com convites e apelos vindos de setores da Igreja no Brasil.

Veja algumas diferenças públicas entre Francisco e Bolsonaro:

🌱 Meio Ambiente

Papa Francisco: Defensor do cuidado com a criação e crítico do desmatamento.

Bolsonaro: Promoveu flexibilizações na legislação ambiental e criticou ONGs internacionais.

🤝 Justiça Social

Papa Francisco: Colocou os pobres no centro de seu papado, defendendo políticas sociais e inclusão.

Bolsonaro: Crítico de programas sociais amplos e defensor de cortes de gastos públicos.

🛂 Migração e Refugiados

Papa Francisco: Incentivou acolhimento a migrantes e refugiados.

Bolsonaro: Adotou discurso duro contra imigração ilegal e criticou a política de fronteiras abertas.

🏳️‍🌈 Direitos LGBTQIA+

Papa Francisco: Defendeu acolhimento e respeito às pessoas LGBTQIA+ dentro da Igreja.

Bolsonaro: Conhecido por declarações polêmicas e críticas ao movimento LGBTQIA+.

🔫 Armamento

Papa Francisco: Crítico da cultura de armas e da indústria armamentista.

Bolsonaro: Forte defensor do armamento civil como forma de “autodefesa”.

Repercussão

A postura do ex-presidente repercutiu nas redes sociais e dividiu opiniões. Enquanto seus apoiadores elogiaram o tom neutro e institucional da mensagem, críticos apontaram a omissão como uma demonstração de desrespeito com a figura de um líder mundial que dedicou sua vida aos mais pobres e à justiça social.

Até o momento, nenhum representante oficial da Igreja no Brasil comentou publicamente a declaração de Bolsonaro.