A eleição de Robert Francis Prevost como novo líder da Igreja Católica — agora papa Leão XIV — marca um feito inédito na história do Vaticano: pela primeira vez, um americano assume o trono de Pedro. A escolha, no entanto, ocorre em meio a uma tendência preocupante para o catolicismo em seu próprio país de origem: os Estados Unidos caminham para ter, até 2050, mais pessoas sem religião do que fiéis católicos.

A projeção é da Associação de Arquivos de Dados de Religião e confirma o que os dados vêm sinalizando há décadas. Apesar de o número nominal de católicos ter crescido ao longo do século 20, esse crescimento foi proporcionalmente superado pelo aumento da população total do país. Com isso, o percentual de católicos vem apresentando queda: de 24,1% em 1970 para cerca de 20,5% em 2020.

No mesmo intervalo, o grupo dos que se declaram sem religião — os chamados “nones” — cresceu exponencialmente. De 1,3% no início do século passado, passou para quase 20% em 2020 e deve ultrapassar 25% da população americana até meados do século.

Destaques da Reportagem

Os nones desafiam o catolicismo nos EUA

Os desafios do papa Leão XIV

Marco para o catolicismo dos EUA

Robert Francis Prevost é o primeiro americano eleito Papa (Leão XIV), em um momento em que o catolicismo perde espaço nos EUA.

Ascenção dos sem religião

Até 2050, projeta-se que haverá mais pessoas sem religião do que católicos nos EUA. O percentual de católicos caiu de 24,1% (1970) para 20,5% (2020).

Crescimento dos “Nones”

O grupo dos sem religião cresceu de 1,3% para quase 20% em 2020, com projeção de ultrapassar 25% até meados do século.

Fenômeno Global

A secularização não é exclusiva dos EUA, afetando diversos países, incluindo o Brasil, especialmente entre os jovens.

Força Numérica

Apesar da queda proporcional, os EUA têm cerca de 85,3 milhões de católicos, sendo o 4º país com mais fiéis no mundo.

Importância Continental

As Américas concentram mais de 40% dos católicos do mundo, com aproximadamente 589,2 milhões de fiéis em 2025.

O desafio do novo pontífice: manter a relevância da Igreja em sociedades cada vez mais secularizadas.

Mudança silenciosa e global

A guinada não é exclusiva dos EUA. Em diversos países, inclusive o Brasil, observa-se uma crescente onda de distanciamento da religiosidade tradicional, especialmente entre os mais jovens. A tendência global afeta tanto o catolicismo quanto o protestantismo, ainda que este último mantenha uma base histórica mais enraizada na cultura americana desde sua fundação.

Nos Estados Unidos, os protestantes, que já chegaram a representar quase 60% da população no início do século 20, devem chegar a 2050 com cerca de 34,9%. Embora também em queda, o ritmo de declínio parece estabilizado nos últimos anos, segundo demógrafos.

Catolicismo ainda tem força numérica

Apesar da queda proporcional, o reduto católico norte-americano permanece robusto em números absolutos. Estimativas recentes da World Population Review apontam cerca de 85,3 milhões de católicos nos EUA — o que coloca o país em quarto lugar no ranking mundial de fiéis, atrás apenas do Brasil, México e Filipinas.

A eleição de Leão XIV, portanto, ocorre em meio a um cenário ambíguo: de um lado, a perda de espaço relativo dentro da sociedade americana; de outro, a permanência dos EUA como um dos maiores polos de presença católica global.

Américas concentram quase metade do catolicismo mundial

Mesmo com os desafios internos, os Estados Unidos fazem parte de um continente decisivo para os rumos da Igreja Católica. Somadas, as Américas — do Norte, Central e do Sul — concentram mais de 40% dos católicos do mundo, com aproximadamente 589,2 milhões de fiéis em 2025.

A eleição de Leão XIV pode reforçar a representação americana no Vaticano, mas também lança um novo olhar sobre os desafios que a Igreja enfrenta para manter sua relevância em sociedades cada vez mais secularizadas. A expectativa agora recai sobre como o novo pontífice lidará com esse cenário em sua própria terra natal — onde o maior adversário da fé católica não é outra religião, mas a ausência dela.

Bispo de Quixadá já esteve com o agora papa Leão XIV durante curso para novos bispos em 2023