A Igreja Universal do Reino de Deus está sendo processada na Justiça de Pernambuco por um ex-fiel que alega ter doado R$ 31,5 mil à instituição religiosa em troca de uma “mudança positiva de vida”, mas acabou enfrentando uma grave crise financeira.
O autor da ação é Manoel Rodrigues Chaves Filho, de 50 anos, que vendeu sua padaria e doou o valor à igreja acreditando que sua situação melhoraria. No entanto, segundo ele, perdeu o emprego, teve o casamento desfeito e contraiu dívidas escolares da filha após a doação.
Pressão para doar
Nos autos do processo, áudios mostram um pastor da Universal, identificado como Rodrigo Antonio, pressionando Manoel a entregar todo o valor à igreja. Em uma das gravações, ele chega a afirmar que o fiel não deveria dividir o dinheiro com a esposa e a filha.
“Agora, é o senhor pegar e preparar o seu sacrifício, esse valor de R$ 30 mil e tudo que vier na mão do senhor. Se tiver mais coisa, o senhor pega e fala assim: ‘vou vender, vou pegar esse dinheiro e botar num envelope’”, diz o pastor em um dos áudios.
Manoel afirma que entregou R$ 10 mil em cheque e R$ 21,5 mil em espécie no estacionamento da igreja, em novembro de 2017. Após perceber que não teve a mudança de vida prometida, ele entrou em um culto segurando uma foto do pastor e protestou publicamente.
Decisão da Justiça
O processo foi aberto em 2019 e, em janeiro de 2022, o juiz Carlos Neves da Franca Neto Júnior, da 2ª Vara Cível da Comarca de Olinda, determinou que a Igreja Universal restituísse parte do valor. A instituição religiosa entrou com recurso, mas a Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) negou o pedido na última quinta-feira (20 de março de 2025).
Na sentença, o juiz afirma que há indícios claros de que o pastor sabia das dificuldades financeiras de Manoel e, mesmo assim, insistiu para que ele entregasse todo o dinheiro. O magistrado destacou ainda que os áudios e conversas por WhatsApp demonstram a influência do líder religioso sobre o ex-fiel.
O que diz a Igreja Universal?
A Universal argumentou que não há provas concretas do repasse em dinheiro vivo e que a prática de pedir doações é parte da liberdade religiosa garantida pela Constituição. Em nota, a instituição afirmou que a decisão judicial interfere na relação entre fiéis e igreja e que espera reverter o caso em instâncias superiores.
Manoel, que hoje trabalha como padeiro, espera receber a restituição para tentar reabrir seu negócio. Ele afirma que não voltou a frequentar templos religiosos desde o episódio.