O professor Victor Marques (PT), que foi candidato a prefeito de Quixadá em 2024, concedeu entrevista à rádio Campo Maior, em Quixeramobim, na qual falou sobre diversos assuntos envolvendo a política local, estadual e nacional, suas atividades atuais e projetos para o futuro.
Aos 40 anos de idade, Victor dá aulas na Universidade do ABC paulista e é considerado um potente intelectual do campo progressista brasileiro, com bom trânsito entre as principais figuras da expressão de esquerda no país, incluindo o presidente Lula, a quem trata como líder e amigo pessoal.
Na entrevista, Victor se disse muito grato pela maneira como foi tratado na campanha eleitoral de 2024 pela população de Quixadá, apesar de não ter sido eleito. Fez críticas à esquerda e à direita e se disse preocupado com a incapacidade das massas de acreditar no que chamou de “boa política”.
Crítica à elite de Quixadá
Sobre a conjuntura local, apontou que sua principal preocupação é com a mentalidade da elite de Quixadá.
“O nível estreito, mesquinho, da mentalidade da elite quixadaense. Sua incapacidade de pensar grande, de pensar a longo prazo, de ter uma visão ambiciosa do que o nosso município pode ser. Uma elite acanhada, que tá olhando pra baixo, que tá querendo fazer pequenos negócios pra… enfim.”
A crítica mira setores da sociedade quixadaense que, segundo Victor Marques, faz da política um meio para pequenas negociatas. E que, diz ele, não pensa estrategicamente na cidade, mas em lucrar mesmo a custa do desenvolvimento local.
O Quixadá dos anos 2000
“Cadê aquele Quixadá dos anos 2000? O pessoal de Quixeramobim lembra. Naquele momento o pessoal dizia que as coisas iam mais para Quixadá. Era um momento em que a gente estava pensando em Quixadá como cidade universitária, investimentos da Petrobrás, dar a linha do desenvolvimento.”
O início dos anos 2000, citado pelo educador, coincidiu com a ascensão de Lula à presidência da República. Foi um período marcado, realmente, por um ímpeto forte de crescimento econômico, com o Brasil sendo apontado por especialistas do mundo todo como o país que decolava para a prosperidade e justiça social.
Quixadá teve sua fatia de ganhos. O projeto da Universidade Federal do Ceará (UFC); do campus do Instituto Federal do Ceará (IFCE); a instalação da Usina de Biodiesel, que criou no Distrito de Juatama a época mais auspiciosa de todos os tempos, gerando ali e no município uma cadeia promissora de novos empregos; a construção de novas escolas, inclusive uma pioneira de tempo integral; o fortalecimento inédito da agricultura familiar; tudo isso preparou Quixadá para se tornar polo educacional e econômico da Região. Nesse contexto veio também a Unicatólica, viável pelo ambiente de concentração de investimentos federais na área naquela época.
Os anos recentes
Em sua crítica, Victor aponta:
“A nossa elite fala muito de empreendedorismo, mas tem uma visão pouco empreendedora. Inclusive empreendedora no sentido da política, de ter uma visão estratégica, de longo prazo, de fazer coisa grande, de se orgulhar de pensar grande. Acho que isso tá faltando, lamentavelmente, pra Quixadá.”
Na avaliação de muitos observadores, na década mais recente Quixadá se destacou por perder espaço como atrator de grandes projetos e investimentos. E enquanto sua fragilidade e divisão política foram se acentuando, Quixeramobim ganhou terreno.
A terra de Antônio Conselheiro já havia levado o Hospital Regional, mas cuidou em garantir também o curso público de medicina; mais recentemente, abocanhou o Porto Seco, um projeto gigantesco ambicionado por Quixadá há muitos anos e, agora, selado pelo vizinho. O Porto Seco, aliás, tem potencial para tornar Quixeramobim o polo de concentração das grandes empresas, gerando empregos à granel e fazendo do município o coração pulsante da economia e do desenvolvimento do Sertão Central.
Esse é o contexto da fala de Victor Marques ao Sistema Maior de Comunicação e à Rádio Campo Maior. Ele não discorreu mais, porém, sobre a última administração de Ilário Marques (PT), seu pai, cujos anos finais foram caóticos e pouco realizaram em termos de revolucionar a cidade e impulsioná-la para o futuro, concentrando-se em coisas pequenas. Os menos radicais apontam que ele carregou o mérito de lidar com a pandemia de forma correta, aceitando a ciência como guia, mas falhando de forma retumbante em sua comunicação com o público. Desafiou o poder das redes sociais e da máquina de comunicação dos adversários. Permitiu-se empunhar bandeiras impopulares e acabou sendo visto como perseguidor de feirantes, ambulantes e concursados. Para muitos dos que avaliam o cenário, a derrota de Victor Marques carrega um aspecto forte de herança do histórico recente do PT no município. Um desafio com o qual, conforme se aponta unanimemente, Victor terá de lidar para reconquistar o diálogo pleno com o povão e, ainda mais difícil, com a elite de Quixadá.
(Foto: Reprodução/SMC)