O prefeito do município de Potiretama, no interior do Ceará, Luan Dantas Felix (PP), encontra-se preso na cadeia pública de Quixadá desde a semana passada, por determinação judicial. Ele é investigado por suspeita de ter orquestrado o incêndio criminoso em uma fazenda pertencente a um advogado, na cidade de Alto Santo, com o auxílio de uma facção criminosa. A motivação seria uma disputa política envolvendo denúncias contra a atual gestão municipal.
O caso, tratado com gravidade pelas autoridades estaduais, revela uma escalada de violência em torno da política local, com indícios de envolvimento direto do prefeito com membros de uma facção. As investigações da polícia apontam que o gestor teria utilizado integrantes do grupo criminoso para intimidar e atacar opositores.
O crime
O incêndio ocorreu no dia 28 de maio de 2024. A propriedade rural, localizada em Alto Santo, teve portas, janelas, móveis e eletrodomésticos destruídos pelas chamas. A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) confirmou que o fogo foi provocado com o uso de óleo diesel — substância inflamável frequentemente empregada como acelerante.
Antes do ataque, o advogado já havia registrado boletim de ocorrência relatando ameaças de morte vindas do prefeito. Segundo a vítima, Luan Dantas suspeitava que ele fosse o autor de uma denúncia encaminhada à Procuradoria de Justiça dos Crimes contra a Administração Pública (Procap) sobre um suposto esquema de superfaturamento envolvendo um posto de combustíveis ligado ao gestor.
A tensão aumentou com novas ameaças. De acordo com o advogado, outras pessoas também estariam juradas de morte por Luan, incluindo uma vereadora, um ex-vereador e até um parente do próprio prefeito. A vereadora, inclusive, formalizou denúncia com um boletim de ocorrência.
Envolvimento com o crime organizado
As investigações revelaram que o plano criminoso contou com o apoio de Felipe Gomes da Silva, conhecido como “Pajé”, apontado como integrante de um grupo criminoso com forte atuação no Rio de Janeiro. Ele teria participado diretamente da execução do incêndio. Em um áudio interceptado pela polícia, Pajé confirma o ataque e a ligação com o prefeito. Pouco tempo depois, em julho de 2024, Pajé foi assassinado — circunstância ainda sob apuração.
A Polícia Civil afirma que o grupo criminoso utilizava telefones alternativos aos aparelhos pessoais para se comunicar durante a preparação e execução dos crimes, numa tentativa de dificultar a rastreabilidade dos envolvidos.
Prisão e tentativa de fuga
A prisão do prefeito foi cumprida por meio de um mandado de prisão preventiva. Ao perceber a aproximação dos policiais, Luan tentou fugir de carro rumo à cidade de Rodolfo Fernandes, no Rio Grande do Norte. Durante a fuga, arremessou um objeto pela janela do veículo — possivelmente um celular — numa possível tentativa de eliminar provas.
A captura ocorreu no km 4 da rodovia CE-269, ainda dentro do território de Potiretama. Após a audiência de custódia, o prefeito foi transferido para a unidade prisional de Quixadá.
Operação Revelatio
O prefeito também é alvo da Operação Revelatio, deflagrada pela Procap com apoio da Polícia Civil, que investiga um suposto esquema de superfaturamento na compra de combustíveis pela Prefeitura de Potiretama. Foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão em imóveis ligados ao gestor, a secretários e ex-gestores, além de sócios do posto de combustíveis.
Segundo o Ministério Público, Luan Dantas é um dos fundadores do posto envolvido nas investigações. Embora tenha alegado ter se desligado da empresa após assumir o cargo em 2021, o MP afirma que a venda foi simulada. A gestão atual da prefeitura teria passado a contratar a mesma empresa para abastecer a frota municipal.
Os dados levantados impressionam: entre 2017 e 2020, foram gastos R$ 4,1 milhões em combustíveis. De 2021 a fevereiro de 2024, já com Luan no comando do Executivo, esse valor subiu para mais de R$ 8,2 milhões — um crescimento de mais de 100%, mesmo sem aumento da frota.
Além disso, há indícios de fiscalização precária dos contratos, com descumprimento de formalidades exigidas para pagamento à empresa fornecedora.
Defesa contesta prisão
A defesa do prefeito divulgou nota na qual afirma haver “insuficiência de fundamentos” para a prisão preventiva, além de apontar “ilegalidades” no decorrer da investigação. Os advogados protocolaram pedido de habeas corpus com liminar para a revogação da medida.
“Estamos aguardando a sua distribuição a um dos desembargadores e nele há pedido liminar de revogação dessa prisão, seja pela insuficiência de fundamentos de seus decretos, seja pelas ilegalidades que nós encontramos ao longo dessa investigação. Aguardamos ansiosamente certos da presunção de inocência que goza o nosso cliente”, diz o comunicado.