Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que as recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fazem parte de uma estratégia articulada para preparar uma eventual fuga do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sob o argumento de perseguição política. A informação é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.

O temor dentro do Supremo é de que Bolsonaro tente obter asilo político nos Estados Unidos, utilizando o apoio de Trump para construir a narrativa de que estaria sendo injustamente perseguido no Brasil. O histórico recente do ex-presidente é citado como indício: ele passou duas noites na embaixada da Hungria em Brasília após ter o passaporte retido, e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), mudou-se para os EUA, autodeclarando-se em “exílio”.

Trump tem intensificado sua defesa pública a Bolsonaro. Em sua rede social, escreveu: “Deixem o grande ex-presidente do Brasil em paz. Caça às bruxas!”. Dias antes, havia dito que Bolsonaro “não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo”. Também enviou carta ao presidente Lula, afirmando que o julgamento de Bolsonaro “não deveria estar acontecendo” e que deveria “acabar imediatamente”. A declaração foi interpretada como tentativa de interferência externa nas instituições brasileiras.

O Supremo, porém, rechaça qualquer tipo de pressão. Segundo reportagens dos jornais Folha e Estadão, os ministros confirmam que o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado está mantido para o fim de agosto ou início de setembro. A corte também segue atenta à possibilidade de adoção de medidas cautelares, como prisão preventiva, recolhimento domiciliar, proibição de deixar o país ou inserção em listas de controle migratório.

Em paralelo à escalada política, o caso ganha contornos diplomáticos e econômicos. A imposição, por parte de Trump, de uma tarifa adicional de 50% sobre os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos foi vista como retaliação ideológica, ampliando a tensão entre os dois países. A medida pode afetar setores como siderurgia, aviação, carnes e frutas, embora analistas apontem a possibilidade de redirecionamento das exportações para outros mercados, como a China.

A postura de firmeza por parte do STF e do Itamaraty demonstra que o Brasil pretende manter sua soberania institucional. Em reunião com o presidente Lula, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, decidiu que a corte não responderá publicamente às provocações de Trump, deixando a condução diplomática ao Ministério das Relações Exteriores. Ainda assim, o ministro Flávio Dino publicou mensagem indireta nas redes, reforçando o papel da Corte na defesa da ordem constitucional e da soberania.

Enquanto isso, Bolsonaro segue no centro das investigações. Mesmo inelegível por decisão do TSE, ele ainda pode ser condenado criminalmente por seu suposto envolvimento na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Segundo integrantes do STF, a pressão sobre o ex-presidente tende a crescer, e qualquer tentativa de fuga será tratada com as medidas cabíveis previstas na legislação brasileira.