
Durante o lançamento do Plano Safra para a Agricultura Familiar 2025/2026, nesta segunda-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo federal vai endurecer o combate às brechas legais que permitem a isenção de Imposto de Renda para brasileiros com altíssimo poder aquisitivo. A declaração foi feita durante um discurso em Brasília, marcado por críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à resistência de setores da elite econômica à nova política tributária do governo.
“O trabalhador que ganha pouco paga imposto descontado na fonte. Já quem tem renda milionária, muitas vezes, se beneficia de dispositivos inseridos discretamente em leis para pagar menos ou até nada. Vamos fechar essas brechas”, declarou Haddad.
Super-ricos sob nova regra
O ministro detalhou que, com a nova política, 25 milhões de famílias brasileiras devem ser beneficiadas com isenção ou redução do Imposto de Renda, enquanto cerca de 140 mil pessoas com renda superior a R$ 1 milhão por ano terão a alíquota mínima de 10%. “Se o cara já paga 2%, vai passar a pagar 10%. A mesma alíquota de um policial, de um professor da rede pública. E está essa gritaria toda?”, ironizou.
A medida faz parte da promessa do governo Lula de promover uma reforma fiscal mais justa, que corrija distorções e garanta maior equilíbrio na arrecadação. “Não é razoável que um servidor público com salário médio pague mais imposto que um milionário que vive de lucros e dividendos. O sistema atual penaliza o trabalhador e protege o capital sem justificativa ética nem econômica”, afirmou.
“Jabutis” e privilégios
Haddad também criticou os chamados “jabutis” — dispositivos inseridos em projetos de lei para beneficiar grupos específicos, geralmente ligados ao grande empresariado. Segundo o ministro, esses mecanismos permitem que privilégios fiscais sejam criados longe do debate público. “No Brasil, o jabuti é órfão de pai e mãe. Ninguém assume. Mas ele aparece numa lei para beneficiar um poderoso. E para tirar esse jabuti depois é um parto”, disse.
Ele prometeu revisar essas brechas legais com o apoio da Receita Federal, do Congresso e da sociedade civil. “Vamos enfrentar os privilégios. O país não pode continuar punindo o trabalhador e aliviando quem tem maior capacidade contributiva”, reforçou.
Embate político
Durante o evento, Haddad também rebateu declarações recentes do ex-presidente Jair Bolsonaro, que criticou supostos aumentos de imposto promovidos pelo governo Lula. O ministro lembrou que Bolsonaro passou quatro anos sem corrigir a tabela do Imposto de Renda, o que, na prática, resultou em aumento da carga tributária para trabalhadores de baixa e média renda. “Que moral ele tem para criticar aumento de imposto?”, questionou.
Haddad ainda lembrou o período em que atuou como advogado de Lula durante os processos da Lava Jato. “O senhor nunca pediu perdão, anistia. Pediu justiça. Esse outro nem foi julgado ainda e já está pedindo perdão”, provocou.
Justiça social como diretriz
Ao final do discurso, o ministro reafirmou que o governo manterá a política de valorização dos trabalhadores e de combate às desigualdades. “Vamos continuar fazendo justiça social. Podem gritar, podem tentar sabotar. Mas o Brasil precisa de um sistema fiscal justo. E estamos trabalhando para isso”, concluiu.
A nova regra sobre a tributação dos super-ricos deve ser apresentada em detalhes nas próximas semanas, em conjunto com outras medidas previstas na reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional.