A tragédia humanitária na Faixa de Gaza alcança proporções dramáticas com o avanço do conflito iniciado em outubro de 2023 e o bloqueio à entrada de ajuda humanitária. Segundo reportagem do jornal O Globo, moradores relatam fome extrema, colapso completo da infraestrutura civil e medo constante, enquanto Israel impõe restrições severas à entrada de alimentos e insumos. Na última terça-feira (20), o governo israelense autorizou a entrada de cem caminhões com alimentos, mas apenas uma fração conseguiu passar pelas barreiras, número distante dos 300 diários considerados necessários pela ONU.

Em entrevista à BBC, um pai palestino relatou que seu filho chorava ao tentar comer arroz e lentilhas. “Meus filhos vão dormir com fome”, afirmou. Em Gaza, esse tipo de relato se multiplica em uma região onde, segundo os moradores, já não há casas, água potável ou eletricidade para boa parte da população. As pessoas dormem e acordam como animais à procura de um lugar para ficarem paradas, sobrevivendo a ameaça constante da morte.

Galeria de Fotos – A fome como arma de guerra em Gaza

O consórcio Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiado pela ONU, classificou a crise alimentar em Gaza no nível mais grave existente. De acordo com seu relatório mais recente, 470 mil pessoas enfrentam fome extrema e praticamente toda a população do enclave sofre com insegurança alimentar. A retomada dos bombardeios por Israel, após o colapso do cessar-fogo em março, agravou o quadro.

A enfermeira brasileira Ruth Barros, da organização Médicos Sem Fronteiras, que esteve em Gaza entre fevereiro e abril, relatou: “As proteínas acabaram primeiro, depois frutas e vegetais. Por fim, o pão, que é básico na alimentação palestina”, disse.

Destaque Estatística
70%

dos mortos no conflito são mulheres, crianças, adolescentes e bebês.

Fonte: Escritório da ONU para Direitos Humanos

As mulheres e crianças são os grupos mais atingidos. Segundo o Escritório da ONU para Direitos Humanos, 70% dos mortos no conflito são mulheres e menores de idade. Cerca de 17 mil mães e 71 mil crianças sofrem de desnutrição aguda, segundo o IPC. O subsecretário da ONU para Assistência Humanitária, Tom Fletcher, alertou que 14 mil bebês podem morrer até o fim dessa semana sem acesso à ajuda.

Estima-se que 39 mil crianças tenham perdido um ou ambos os pais desde o início do conflito, segundo a agência de estatísticas palestina. Muitas vivem com parentes que mal têm condições de alimentá-las.

A pressão internacional aumenta. Entidades como a ONG israelense Gisha acusam o governo de Tel Aviv de usar a fome como arma de guerra. O chefe da UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, afirmou que o bloqueio à ajuda é deliberado. O presidente francês Emmanuel Macron classificou a situação como “vergonhosa”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “muito alarmado”.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump, apesar de reafirmar seu apoio a Israel, reconheceu que “muitas pessoas estão passando fome” em Gaza. Washington anunciou apoio a uma fundação para entrega de ajuda humanitária, mas sem detalhes concretos sobre sua implementação. Os EUA, com seu apoio irrestrito a Israel, é considerado por muito como a base que sustenta a carnificina em Gaza. Não é uma guerra contra o Hamas, é uma tentativa de aniquilar todo um povo. É genocídio.

Destaque de Citação

Não é uma guerra contra o Hamas, é uma tentativa de aniquilar todo um povo. É genocídio.

Apesar das críticas crescentes, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu tem rechaçado mudanças em sua estratégia. Segundo ele, as críticas externas são “troféus ao Hamas”. Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Oren Marmorstein, classificou os apelos internacionais como fruto de “obsessão anti-Israel”.

Por outro lado, integrantes do Exército israelense, sob anonimato, admitiram ao jornal New York Times que a liderança do país está ciente da gravidade da crise e que, sem mudanças, o colapso alimentar será inevitável em diversas regiões de Gaza.

“Não precisamos esperar por uma declaração formal de fome para saber que as pessoas já estão passando fome, adoecendo e morrendo”, alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde.