Em 1978, o Brasil esteve a poucos passos de ver um cardeal brasileiro assumir o posto máximo da Igreja Católica. O conclave daquele ano, convocado após a morte do papa João Paulo 1º, indicou o nome de dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza, como o mais votado entre os cardeais presentes. No entanto, ao ser consultado, Lorscheider recusou o cargo alegando fragilidade de saúde: ele havia passado por uma cirurgia cardíaca e possuía oito pontes de safena.
A decisão de recusa foi relembrada pelo escritor Frei Betto em artigo recente, e também é registrada na biografia escrita pelo jornalista americano Tad Szulc, que narra os bastidores do conclave. Segundo o livro, o impasse gerado pela rejeição de Aloísio levou a uma articulação que contou com sua própria atuação, direcionando votos de cardeais latino-americanos e africanos para o cardeal polonês Karol Wojtyla, que acabaria sendo eleito como João Paulo 2º.
Breve biografia de Dom Aloísio Lorscheider
Dom Aloísio Lorscheider, nascido Leo Arlindo Lorscheider em 8 de outubro de 1924, em Estrela (RS), foi uma das figuras mais influentes da Igreja Católica no Brasil durante o século XX. Frade franciscano, teólogo e defensor dos direitos humanos, destacou-se por sua atuação pastoral e compromisso com os pobres e marginalizados.
Formação e Início no Clero
Ingressou no seminário franciscano de Taquari aos nove anos e foi ordenado sacerdote em 22 de agosto de 1948. Doutorou-se em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, em 1952. De volta ao Brasil, lecionou em seminários e publicou diversos artigos teológicos.
Trajetória Episcopal
Em 1962, foi nomeado bispo de Santo Ângelo (RS) por João XXIII. Participou ativamente do Concílio Vaticano II (1962-1965), integrando comissões conciliares. Em 1973, tornou-se arcebispo de Fortaleza (CE), onde permaneceu por 22 anos, sendo posteriormente transferido para Aparecida (SP) em 1995, cargo que ocupou até 2004.
Atuação na Igreja e Reconhecimento
Elevado a cardeal em 1976 pelo Papa Paulo VI, Lorscheider presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de 1971 a 1979 e o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) de 1976 a 1979. Foi defensor da Teologia da Libertação e crítico da ditadura militar brasileira.
Conclave de 1978
Durante o conclave de 1978, após a morte de João Paulo I, Lorscheider recebeu os dois terços dos votos necessários para ser eleito papa. No entanto, recusou o cargo, alegando problemas de saúde, e articulou a eleição de Karol Wojtyła, que se tornou João Paulo II.
Legado e Falecimento
Dom Aloísio Lorscheider faleceu em 23 de dezembro de 2007, aos 83 anos, em Porto Alegre (RS). Seu legado permanece vivo na memória da Igreja Católica brasileira, sendo lembrado por sua dedicação aos pobres, defesa dos direitos humanos e contribuição teológica.
Dom Sergio da Rocha aparece entre os favoritos no conclave de 2025
Quase meio século depois, outro cardeal brasileiro é citado na imprensa internacional como possível nome para suceder o papa Francisco. Dom Sergio da Rocha, atual arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, aparece entre os 15 favoritos na lista do jornal francês Libération.

Cardeal desde 2016, dom Sergio integra o C9, o conselho de cardeais criado por Francisco para assessorá-lo nas reformas da Igreja. Ele entrou no grupo em 2023 e, embora sua presença na lista de favoritos seja destacada por veículos estrangeiros, ele evitou comentar as especulações.
“Nesse momento, não temos muito a dizer sobre o conclave, temos o que falar sobre o papa Francisco”, disse em coletiva recente.