Com o conclave marcado para iniciar em 7 de maio, dois nomes conservadores ganham destaque como possíveis sucessores do Papa Francisco: o húngaro Péter Erdő e o guineense Robert Sarah. Ambos representam uma ala tradicionalista da Igreja Católica e têm visões que não apenas contrastam significativamente com as reformas promovidas por Francisco, mas são diametralmente opostas. Se qualquer um dos dois for eleito para o trono papal, tudo o que Francisco construiu começará quase que imediatamente a ruir. ​

Cardeais Papáveis
Cardeal Péter Erdő

Péter Erdő: o “Doutor de Budapeste”

Nascido em Budapeste, Hungria, em 1952, Péter Erdő é arcebispo de Esztergom-Budapeste e foi nomeado cardeal em 2003 pelo Papa João Paulo II. Com uma sólida formação acadêmica em direito canônico, Erdő é conhecido por sua postura conservadora em temas como imigração, família e moral sexual. Durante a crise migratória de 2015, por exemplo, ele alertou que abrigar refugiados indiscriminadamente poderia tornar a Igreja cúmplice do tráfico de pessoas, contrastando com o apelo de Francisco por acolhimento aos migrantes.

Erdő também se opõe ao reconhecimento de uniões homossexuais e defende o celibato obrigatório para sacerdotes. Sua liderança na Conferência Episcopal Húngara e no Conselho de Conferências Episcopais da Europa reforça sua influência entre os bispos europeus. O cardeal é considerado por seus colegas um homem culto, profundo conhecedor do direito canônico e da história e cultura europeias. Ao mesmo tempo, já foi descrito na imprensa como um líder religioso frio —raramente se deixa fotografar sorrindo—, um contraste marcante com o estilo bem-humorado de Francisco.

Em 2015, Erdo foi relator do chamado Sínodo da Família, convocado por Francisco para discutir o papel da Igreja em um mundo em mudança, e utilizou o evento para revelar algumas de suas opiniões. Em seu discurso no Sínodo, um dos mais importantes do encontro, o arcebispo de Budapeste disse que “não há qualquer base para considerar que uniões homossexuais possam ser semelhantes ou mesmo remotamente análogas ao plano de Deus para o casamento e a família”.

Em discussões no mesmo Sínodo, Erdo disse que católicos divorciados e que se casem de novo só poderiam receber comunhão caso não pratiquem relações sexuais —uma posição defendida pelo papa João Paulo 2º. Afirmou ainda que “abordagens pastorais”, ou seja, as relações de membros da Igreja com os fiéis, não podem interferir “na verdade sobre a indissolubilidade do casamento”.

Cardeal Robert Sarah

Robert Sarah: a face africana da tradição

Robert Sarah, nascido na Guiné em 1945, é conhecido por sua defesa intransigente da tradição litúrgica e moral da Igreja. Ele apoia a celebração da missa tridentina em latim, com o padre de costas para os fiéis, prática que o Papa Francisco proibiu em seu pontificado.

Sarah é crítico das mudanças propostas por Francisco, especialmente em relação à moral sexual e à sinodalidade. Ele considera que a Igreja deve resistir às pressões culturais modernas e manter sua doutrina tradicional. Em 2020, publicou um livro defendendo o celibato sacerdotal, interpretado como uma crítica às propostas de Francisco sobre a ordenação de homens casados em regiões específicas.

Sua eleição ao trono papal representaria um retorno da Igreja Católica às práticas e modos do século dezenove.

Um possível retrocesso nas reformas de Francisco

A eleição de Erdő ou Sarah representaria uma guinada conservadora na liderança da Igreja Católica, potencialmente revertendo as reformas de Francisco em áreas como acolhimento a migrantes, inclusão de minorias e abordagem pastoral mais aberta. Ambos os cardeais têm visões que priorizam a tradição e a ortodoxia doutrinária, o que poderia significar um afastamento das iniciativas progressistas do pontificado de Francisco.​ Com o conclave se aproximando, a escolha do próximo papa será decisiva para o futuro da Igreja.