✒️ Autor: Gooldemberg Saraiva

Por um instante, imagine Jesus Cristo – a figura histórica que mais promoveu a paz em todos os tempos – orientando seus discípulos a receber treinamento militar, com uso de armas letais, para usarem numa guerra em defesa dos interesses geopolíticos de suas nações. Inimaginável, não é? É conhecida a passagem no evangelho de João 13: 34, 35, na qual Jesus disse que o amor, não o empenho nacionalista violento, seria a marca mais identificadora dos seus seguidores.

Na Ucrânia e na Rússia, membros das Testemunhas de Jeová, grupo cristão bem conhecido no Brasil por suas visitas de casa em casa, estão sendo presos pelos respectivos governos. Na Rússia, por recusarem envolvimento político e nos esforços de guerra, sendo classificados como “extremistas”; na Ucrânia, por recusarem pegar em armas e se envolver na luta armada, matando russos, em defesa do território. Para esses cristãos, é inconcebível matar outras pessoas, mesmo que estejam envolvidas questões de soberania de território e liberdade pessoal. Essas disputas, para as Testemunhas de Jeová, são exclusivas do mundo político e militar, e não podem ser abraçadas – em nenhum dos lados – por quem professa o cristianismo e a paz.

Prisões na Ucrânia

Na Ucrânia, membros das Testemunhas de Jeová começaram a ser presos nos primeiros meses de 2025 por se recusarem a prestar serviço militar, baseados em suas convicções religiosas. As prisões ocorrem apesar da legislação nacional e internacional reconhecer o direito à objeção de consciência.

Algumas das Testemunhas de Jeová presas na Ucrânia por defenderem sua fé. Foto: jw.org.

Segundo informações divulgadas pelo site jw.org, o primeiro caso registrado foi o de Vitalii Kryushenko, detido em janeiro de 2025. Em seguida, outras prisões foram efetuadas, incluindo a de Andrii Khomenko, 50 anos, que foi condenado a três anos de prisão em fevereiro. Na mesma linha, Serhii Ivanushchenko, 48 anos, também iniciou o cumprimento de uma pena de três anos após recusar, de maneira respeitosa, o alistamento militar.

Outro caso citado envolve Serhii Nechaiuk, de 35 anos, que foi preso em março. Além disso, os membros Mykhailo Adamovych, Yaroslav Bodnarchuk e Oleksandr Radashko teriam sido transportados à força para unidades militares. Por se recusarem a vestir uniformes e portar armas, eles enfrentam acusações de desobediência a ordens militares e podem ser condenados a penas de cinco a dez anos de cadeia.

A organização religiosa destaca que essas ações contrariam tratados internacionais que protegem o direito à objeção de consciência, como o artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o artigo 9.º da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, ambos ratificados pela Ucrânia. A própria Constituição ucraniana também assegura o direito de realizar serviço civil alternativo em vez do serviço militar obrigatório, algo que tem sido desrespeitado pelo governo de Volodymyr Zelensky.

Prisões e ampla perseguição na Rússia

Desde 2017, as Testemunhas de Jeová enfrentam forte repressão na Rússia, após a Suprema Corte do país classificar a pacífica organização religiosa como “extremista” e proibir suas atividades. Essa decisão resultou na criminalização de práticas cristãs pacíficas, como reuniões de adoração e estudos bíblicos, tratados como envolvimento em atividades extremistas.

Algumas das Testemunhas de Jeová presas na Rússia por defenderem sua fé. Foto: jw.org.

De acordo com informações atualizadas até fevereiro de 2025, pelo menos 146 membros das Testemunhas de Jeová permanecem presos na Rússia devido à sua fé. No total, mais de 850 fiéis já foram processados, 588 foram incluídos em um registro federal de extremistas e terroristas, e 460 passaram algum tempo privados de liberdade. Na maior parte dos casos, o governo não aceita que um grupo religioso coloque a lealdade a uma crença de paz acima dos interesses do Estado controlado por Vladimir Putin.

As acusações no país de Putin se baseiam no artigo 282.2 do Código Penal Russo, que criminaliza a organização de atividades de entidades consideradas extremistas. Entre os casos recentes, destaca-se o de Maxim Khamatshin, 28 anos, acusado de gerenciar “células extremistas”. Ele apenas dirigia estudos da Bíblia. Em fevereiro de 2025, o Tribunal Municipal de Yoshkar-Ola, na República de Mari El, condenou e multou dez membros da comunidade religiosa por estudarem os ensinamentos de Jesus.

Há também denúncias de maus-tratos contra os detidos. Um dos episódios mais graves envolve Rinat Kiramov, que teria sido torturado enquanto estava sob custódia em um centro de detenção em Akhtubinsk.

A repressão contínua às Testemunhas de Jeová na Rússia tem gerado forte reação internacional. Em 2022, a Corte Europeia dos Direitos Humanos declarou ilegal a proibição da organização na Rússia e determinou que o governo russo encerrasse os processos criminais, libertasse os fiéis presos e devolvesse propriedades confiscadas ou pagasse indenizações.

Apesar das condenações externas, as autoridades russas mantêm a classificação da pacífica organização das Testemunhas de Jeová como extremista, e a perseguição judicial e policial contra seus membros persiste.

Presos por causa de sua fé — Rússia

Presos por causa de sua fé — Rússia

A história moderna das Testemunhas de Jeová na Rússia é marcada por opressão e perseguição. Durante a maior parte do século 20, autoridades russas insultaram e maltrataram as Testemunhas de Jeová, embora os que fazem parte dessa religião sejam conhecidos como cidadãos pacíficos, que respeitam as leis.
(Fonte: jw.org)

O que dizem as Testemunhas de Jeová

“Como uma família mundial, oramos para que Jeová continue a consolar e proteger esses irmãos fiéis e todos os que se esforçam para permanecer leais”, afirmou o jw.org.

Em artigo recente em seu site jw.org, as Testemunhas de Jeová analisaram a situação na Ucrânia, classificando-a como ilegal, segundo a legislação internacional. Elas travam batalhas nos tribunais, tanto na Ucrânia como na Rússia, para exercer o direito à própria crença religiosa e liberdade, incluindo a recusa de participar em guerras ou em movimentos políticos.

Esforços contínuos para acabar com as prisões injustas

Esforços contínuos para acabar com as prisões injustas

As Testemunhas de Jeová no mundo todo estão muito tristes com a forma severa com que a Rússia tem tratado seus irmãos. Milhões de Testemunhas de Jeová de todo o mundo têm enviado cartas de apelo às autoridades governamentais russas, em favor de seus irmãos presos.
(Fonte: jw.org)

Curiosidades sobre as Testemunhas de Jeová

  • Sem dízimos ou ofertas obrigatórias: Doações voluntárias e anônimas mantêm as atividades no Brasil e em mais de 200 países, ilhas e territórios.
  • Site mais traduzido do mundo: O JW.ORG está disponível em mais de 1 mil idiomas, levando informações e orientações bíblicas a todas as partes do planeta.
  • Neutralidade política: As Testemunhas de Jeová não apoiam partidos nem participam de campanhas eleitorais. Respeitam as autoridades e pagam seus impostos.
  • Cristãos pacíficos: Não participam de guerras nem utilizam armas, promovendo a paz em suas comunidades.