Em uma declaração que retoma o mais arcaico jargão imperialista da política externa norte-americana, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou em entrevista à Fox News que o governo do presidente Donald Trump está “pegando seu quintal de volta”, ao se referir à América Latina. A fala evidencia, sem disfarces, a visão de dominação histórica dos EUA sobre os países da região, reduzidos a peças subordinadas aos interesses estratégicos e econômicos de Washington.
“O governo Obama tirou os olhos do alvo e permitiu que a China se infiltrasse em toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural”, declarou Hegseth, ignorando o direito soberano dos países latino-americanos de estabelecer parcerias e alianças conforme seus próprios interesses. Em seguida, o secretário afirmou que Trump foi claro quanto ao novo posicionamento:
“O presidente Trump disse: ‘Isso não vai mais acontecer, estamos retomando o nosso quintal’”.
A expressão usada por Hegseth remonta à Doutrina Monroe, de 1823, que consolidou o princípio de que os Estados Unidos teriam o papel de zelar (ou controlar) a América Latina, excluindo a influência de potências europeias e, mais tarde, de qualquer ator global que desafiasse sua hegemonia no continente. Na prática, esse princípio foi historicamente utilizado para justificar intervenções militares, golpes de Estado e interferências econômicas em diversos países latino-americanos.
De acordo com o secretário de Defesa, o objetivo da nova administração republicana é reverter a crescente presença da China na América Latina.
“Estamos trabalhando para investir de uma forma que atenda aos interesses americanos em nosso quintal, ao mesmo tempo em que interrompemos a influência chinesa”, afirmou.
Nos últimos anos, a China aumentou significativamente sua presença na região, com investimentos em infraestrutura, tecnologia, energia e acordos comerciais que têm contribuído para a diversificação econômica de diversos países latino-americanos. Esse movimento incomoda os Estados Unidos, que enxergam a aproximação entre países latino-americanos e chineses como uma ameaça direta à sua influência histórica na região.
Hegseth também justificou sua presença em conferências com líderes de países da América Central e do Sul como parte da estratégia para recuperar a influência perdida. “Foi por isso que estive presente em conferências com países da América Central e do Sul também”, disse.
A fala do secretário de Defesa representa mais do que uma visão estratégica de disputa geopolítica: ela explicita o desejo do governo Trump de recolocar a América Latina em uma posição subordinada, sob vigilância direta dos interesses norte-americanos. Trata-se de um alerta para os países da região, que enfrentam o desafio de buscar autonomia política e desenvolvimento econômico diante de um cenário global marcado por tensões entre grandes potências.
Para analistas internacionais, a retomada dessa retórica reforça a necessidade de uma articulação regional sólida entre os países latino-americanos, com foco na cooperação entre iguais, na valorização da soberania nacional e na rejeição de qualquer forma de interferência externa travestida de investimento ou “parceria estratégica”.