A morte do Papa Francisco, anunciada na manhã desta segunda-feira (21), comoveu profundamente a pequena comunidade católica da Faixa de Gaza. Em meio à guerra, à destruição e ao medo que assolam o território palestino, os fiéis locais perderam não apenas o líder da Igreja Católica, mas alguém com quem mantinham uma conexão pessoal e cotidiana.

Durante os meses mais intensos do conflito na região, iniciado em outubro de 2023, Francisco manteve contato diário com os cristãos de Gaza. Ele ligava todos os dias, às 19 horas no horário local, para a Igreja da Sagrada Família, localizada no coração do enclave. Segundo relatos da própria paróquia e do Serviço de Notícias do Vaticano, essa rotina de telefonemas se manteve até o último sábado (19), dois dias antes do falecimento do pontífice.

“Ele conhecia cada um de nós pelo nome”

George Antone, 44 anos, chefe do comitê de emergência da paróquia, expressou o sentimento de perda em entrevista à agência Reuters.

“Perdemos um santo que nos ensinou todos os dias como ser corajosos, como manter a paciência e permanecer fortes. Perdemos um homem que lutou todos os dias em todas as direções para proteger este seu pequeno rebanho”, afirmou.

De acordo com Antone, o papa não se limitava a falar apenas com o padre responsável.

“Ele fazia questão de conversar com todos que estivessem presentes. Chamava pelo nome, perguntava como estávamos. Dizia: ‘Estou com vocês, não tenham medo’.”

O número de católicos em Gaza é reduzido — estima-se que algumas centenas permaneçam na região —, mas sua representatividade simbólica foi amplamente reconhecida por Francisco.

“Estamos com o coração partido pela morte do papa Francisco, mas sabemos que ele está deixando para trás uma Igreja que se importa conosco”, completou Antone.

Última ligação foi na véspera da morte

O último telefonema foi feito na noite de sábado (19), segundo confirmou o pároco da Igreja da Sagrada Família, reverendo Gabriel Romanelli. “Ele nos abençoou, disse que estava rezando por nós e agradeceu por nossas orações. Foi um momento de fé e conforto, como todos os outros”, disse Romanelli ao canal oficial de notícias do Vaticano.

Na manhã seguinte, no que seria sua última declaração pública durante o Domingo de Páscoa, o papa fez um apelo direto pela paz em Gaza. Em discurso na Praça São Pedro, pediu “um cessar-fogo, a libertação dos reféns e a ajuda a um povo faminto que sonha com um futuro de paz”.

Reconhecimento também no restante do Oriente Médio

O impacto das ações e posicionamentos de Francisco não se limitou a Gaza. Cristãos palestinos, sírios, libaneses e de outras regiões do Oriente Médio — tanto católicos quanto ortodoxos — têm elogiado sua postura firme em defesa da paz, dos direitos humanos e da dignidade dos povos em meio a conflitos prolongados.