O cardeal italiano Angelo Becciu anunciou nesta terça-feira (29) que não participará do conclave que elegerá o novo papa. A decisão foi tomada após Becciu ser confrontado com cartas assinadas pelo próprio Francisco, nas quais o pontífice, falecido na última semana, manifestava o desejo de que ele não integrasse o colégio eleitoral.
Becciu, de 76 anos, afirmou em comunicado que acata a vontade do papa “tendo em mente o bem da Igreja” e reiterou sua convicção de inocência. Apesar de ter participado das Congregações Gerais — reuniões preparatórias do conclave —, o cardeal decidiu se retirar do processo de eleição do novo pontífice.
Os papas que foram eleitos sem serem cardeais e que estavam fora do conclave: tradição possível, mas rara
Ex-prefeito da Congregação para a Causa dos Santos e antigo número dois da Secretaria de Estado do Vaticano, Becciu foi condenado em 2023 pela Justiça da Santa Sé a cinco anos e meio de prisão por fraude financeira, incluindo desvios relacionados à compra de um imóvel de luxo em Londres com recursos destinados a obras de caridade. Atualmente, ele responde em liberdade enquanto aguarda o julgamento do recurso.
Embora tecnicamente elegível para votar, já que tem menos de 80 anos, Becciu havia perdido os “direitos ligados ao cardinalato” em 2020, após renunciar a seus cargos a pedido de Francisco, decisão que foi comunicada oficialmente pelo Vaticano na época.
De acordo com as normas que regem o conclave, estabelecidas no documento Universi Dominici Gregis, apenas cardeais que não tenham sido “canonicamente depostos” ou que “não tenham renunciado ao cardinalato com o consentimento do papa” têm direito a voto. A legislação vaticana também estabelece que, após a morte do papa, o Colégio dos Cardeais não pode reverter essas decisões.
Apesar da aproximação que Francisco manteve com Becciu após o afastamento, incluindo visitas pessoais, o papa também promoveu mudanças jurídicas que permitiram o julgamento de cardeais por tribunais civis da cidade-Estado do Vaticano, medida inédita e decisiva no caso do religioso sardo.
Com a desistência, Becciu é oficialmente listado entre os cardeais “não eleitores” nas estatísticas do Vaticano.
