A cidade de Lavras da Mangabeira, no sertão do Cariri cearense, testemunha o nascimento de uma história de superação digna de aplausos. O protagonista é Samuel Sobreira Cavalcante, jovem de origem humilde da Ana e do Damião, morador de uma cidade com poucas oportunidades e irmão do meio entre nove filhos. Aos 22 anos, Samuel acaba de conquistar o 2º lugar no vestibular de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (UECE), campus de Quixeramobim, para o semestre 2025.2.

Mas o que impressiona não é apenas a colocação, e sim o caminho percorrido até aqui.

Natural de Lavras da Mangabeira, Samuel é o sexto de dez filhos do casal de agricultores. Cresceu em uma casa onde não sobrava dinheiro, mas sobrava amor, valores e esperança. Foi aluno de escola pública a vida inteira. Nunca teve acesso a cursinhos caros, nem estudou nas chamadas “escolas de ponta”. Seu primeiro diploma veio da Escola Estadual de Ensino Profissional Professor Gustavo Augusto Lima, onde concluiu o ensino médio.

Samuel e seus orgulhosos pais, os agricultores Damião e Ana.

Mesmo com dificuldades, Samuel jamais reclamou da vida — ele lutou contra ela, com ela. Conseguiu uma bolsa integral pelo ProUni para estudar Biomedicina em Cajazeiras, na Paraíba. E foi lá, entre estágios, disciplinas puxadas e realidades sociais duras, que ele sentiu o chamado definitivo: queria ser médico.

Mas o sonho exigia sacrifícios. E ele pagou cada centavo com o que tinha de mais precioso: o tempo e o corpo.

De domingo a domingo, Samuel trabalha em dois empregos. Um na prefeitura de Lavras, onde entrou por meio de seleção pública, e outro numa agência da Guanabara. Sai do trabalho, almoça correndo, pega o ônibus gratuito da prefeitura e encara mais de 100 km até Cajazeiras. Estuda à noite, volta de madrugada. Dorme pouco. Estuda muito.

Nunca desistiu, mesmo quando ficou por pouco nas listas de espera. Mesmo quando o corpo gritava por descanso. Ele não tinha acesso aos melhores professores, mas tinha algo que nenhum dinheiro compra: determinação.

Essa história chegou até nós pelas mãos do amigo Wellington Sales, que acompanha essa saga de perto. “Eu chamo ele de Muel. Sempre vi nele algo diferente. Ele abraça as oportunidades como quem agarra a vida”, conta, emocionado.

Hoje, Samuel não carrega apenas um sonho realizado e em progresso. Carrega a bandeira da resistência do estudante pobre, nordestino, trabalhador, que acredita na educação como arma possível contra a imensa desigualdade. Ele é o primeiro da família a conseguir entrar em uma faculdade pública, e agora se prepara para vestir branco e cuidar da vida de outros.

A história de Samuel não é só dele. É de milhares que percorrem o mesmo caminho, sonhando com o que parece inalcançável. E quando alguém como ele chega lá, todos nós damos um passo adiante. O futuro Doutor Samuel será um de nós de jaleco.